quinta-feira, 7 de maio de 2015

CONVENTO DE CRISTO


Fui ver o Mundo. Fui ver o Convento de Cristo, em Tomar.
O Mundo porque, simbolicamente, foi aí que, no reinado de Dom Manuel I, se construíram as quatro partes da Terra.
Ele que era o Grão-Mestre da Ordem de Cristo, da mítica, misteriosa e extinta Ordem dos Cavaleiros do Templo.
Ele, cujo poder concreto lhe advinha da pimenta da Índia, do ouro de África, das pedrarias, porcelanas, perfumes e demais parafernália de mercadorias que atravessavam os mares nas suas naus.
Ele, que mostrava aos povos o seu poder através de um nome magnífico, com atributos sem fim: “Dom Manuel, Rei de Portugal e dos Algarves, d Aquém e d Além-Mar em África, Senhor da Guiné, da conquista, da navegação e do comércio da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia”.
Ele, o “Venturoso”, porque não só lhe coube em sorte ocupar um trono por sucessão indirecta, como lhe caíram no colo todas as riquezas porfiadas pelos seus antecessores ao longo de um século.
Dom Manuel que marca, que ostenta o seu poder por todo o Reino – nos forais, nos pelourinhos, nos portais e nas janelas de palácios, capelas e igrejas. Com as suas armas, com as suas insígnias. Que manda construir de raiz edifícios emblemáticos que marcam a nossa identidade. Que são hoje Património da Humanidade. Com o dinheiro todo do Império, esbanjado por novos-ricos que eram, então, os senhores do Reino. Até se atingir a bancarrota.
O Convento de Cristo já lá estava antes. Desde o século XII. Estratégico no reforço da barreira natural do Tejo, fundamental para a defesa e povoamento das terras conquistadas ao Infiel.
O pano de muralhas desdobra-se cortado por cubelos redondos, as seteiras apresentando uma cruz na base. O paço abre-se para o interior, com janelas agora abertas para o céu, para o espaço azul.
Adiante, a charola com os seus contrafortes elegantes, cuja estrutura oitavada pretende alcançar a perfeição – o círculo. O círculo do panteão romano, mas também o círculo do templo dos templos, mais a oriente, na Jerusalém que simboliza o centro do Mundo – “…Oriente donde vem tudo, o dia e a fé…”
Já no interior ficámos extasiados com a beleza e a riqueza da charola.
Extasiados ficámos também com as explicações, com as histórias, com a História narrada pelo Anísio. O conhecimento profundo sobre a arte – artistas, escolas, técnicas, características, datas - poderiam com outro qualquer ser entediante, maçador, cansativo. Com ele não é. Pela vivacidade, paixão, humor que transparece do seu discurso, pela empatia que estabelece com todos nós, pelos paralelismos com o presente que traz para as suas explanações, pela inovação, actualização do saber que consegue surpreender mesmo os mais informados.
Contou-nos que viveu em tempos no Convento, jovem estudante em trabalho de campo, mas que não chegou a Cavaleiro. Pois bem, está na altura. Entreguemos-lhe nós agora o elmo e a espada. Ao Guardião do Templo. Do Templo da Sabedoria.

Texto: Ana Amorim
Fotos: Luísa e Francisco Ferreira


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